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sábado, setembro 20, 2008

FARNESE DE ANDRADE - "Assemblages"

Página do Livro da Cosac&Naify
Assemblage - s/título
(faca,melancia de madeira,pote,esfera,gamela e caixa),
68 x 37 x 20 cm,
Ex- Coleção Ricardo Barradas - RJ
Atual Coleção Emanoel Araújo - SP




Uma das "Assemblages" adquiridas por Ricardo Barradas,
diretamente do artista,Farnese de Andrade.



LIVRO de FARNESE DE ANDRADE
pela Cosac & Naify


A cada novo objeto confirmo a mim mesmo que ninguém conhece a obra completa de Farnese de Andrade. Mesmo com a mostra, que teve a curadoria do historiador e editor Charles Cosac, que também assinou o principal texto do catálogo, no CCBB do RJ,explorarando vários aspectos singulares da obra de Farnese, que muitos dizem ,que era dono de uma personalidade difícil, morreu em 1996, aos 70 anos, sem ter sua obra suficientemente analisada pela crítica nem absorvida pelo Mercado de Arte.

Eu particularmente estive com Farnese ,algumas vêzes,e sempre fui muito bem tratado.Parece que um mundo particular,gravitacional,se formou entre nós,desde o primeiro de nossos encontros.Eu adquiri,várias "Caixas- Objetos"
e alguns objetos "poliesters" de suas mãos,algumas que ainda tenho,e outras que com o passar dos anos,fui colocando no Mercado de Arte.
Acho muitas vêzes,que algumas obras clamam por seguirem seus novos caminhos,a obra de arte é extremamente dinâmica,não foram idealizadas para ficarem estáticas,presas ou trancadas,entre quatro paredes.Hoje com a Internet,a maioria das obras de arte,de todos os tempos,se revigoram,suas imagens passeiam por pontos do globo,que em outra época,seriam mais que improváveis,circularem.

Quanto às Obras de Farnese de Andrade,
não acredito muito,em certos profissionais do Mercado de Arte,
que se dizem "donos" ou profundos conhecedores da obra do Artista.
Na verdade,são personagens,querendo algum tipo de promoção
fictícia,ou vantagem inexcrupulosa,já que o artista em vida,
jamais passou procuração,para ninguém responder,por
parte,muito menos pela totalidade,
de sua produção artística.
Acredito sim,que muitos conhecem parte do processo
criativo do artista,assim como eu particularmente conheço,e bem,
já que adquiri várias obras diretamente,muitas delas,que figuraram
em várias mostras e exposições do Artista,
como à exemplo,desta que aqui faço referencia,por ter
reencontrado acidentalmente,uma das fotos,
tiradas por mim mesmo,
e por que em
diversas vêzes,Eu e Farnese,trocamos idéias e informações,
sobre à sua Arte como um todo.



FARNESE DE ANDRADE


Nascido em Araguary, no Triângulo Mineiro, em 1926, Farnese de Andrade Neto entrou em 1945 na Escola do Parque de Belo Horizonte, onde foi aluno de Guignard e contemporâneo de artistas como Amilcar de Castro, Mary Vieira e Mário Siléso. Começou a carreira como desenhista e gravador e, a partir de 1964, passou a transformar os restos de madeira e brinquedos que coletava junto com conchas e detritos vindos do mar em obras de arte. Essas obras — assemblages de composições e formatos variados .As primeiras caixas de Farnese já misturam bonecos destruídos, mariscos, cacos e bolas de vidro. Embora tenha sido muitas vezes chamado de escultor, o artista nada esculpia; apenas dava tratamento ao mobiliário mineiro de roça que adquiria em fontes diversas (antiquários, feiras e depósito de demolição), misturando-os à "coleção de restos" que reunia nas praias e até mesmo na rua. As imagens de santos também são um elemento recorrente em sua obra. Elas aparecem invertidas, mutiladas ou envoltas em redomas (nas peças mais antigas) ou resina (mais recentes). Sobretudo os santos popularizados pela Umbanda — como Iemanjá, São Jorge e os gêmeos São Cosme e São Damião. Em minha Coleção Particular,guardo alguns exemplares destes "Santos",alguns deles,sei que o amigo FARNESE,fêz de forma singular para mim.Por minha religiosidade católica,e minhas ligações com a Igreja Social,nos trabalhos nas Pastorais,alguns artistas,brincam entre si,falando que eu seja verdadeiramente "O Padre das Artes",dizem assim de forma carinhosa e prestigiosa,pela minha vasta cultura religiosa.Na composição de Farnese,chamada de "Anunciação" (1984), uma gamela de madeira em cujo fundo o artista acrescentou uma foto de bebê e a forma de um ovo.
Para a crítica Uiara Bartira a obra de Farnese está estruturada a partir de signos. Apesar de profundamente autobiográficas, suas peças abordariam o tempo inteiro a dualidade entre a vida e a morte — e a angústia do homem diante do fato inevitável de que vai morrer. Outros antagonismos, como o entre feminino e masculino, também são abordados nas "assemblages".
"Suportes como gamelas, oratórios, armários e caixas de resina são utilizados como ‘corpo’ e definem diferentes segmentos. As gamelas falam da sensualidade — o feminino —, o que está embaixo. Os oratórios, da cerebralidade — o masculino —, o que está em cima. Os armários discutem sexualidade, o egoísmo, a posse. As caixas — inside — o egocentrismo. Nas resinas residem os medos, as inseguranças e as ansiedades", escreve Uiara.
Bonecos queimados ou mutilados também são outra marca da obra do artista, como se observava na série de trabalhos sobre a tragédia atômica de Hiroshima, que estava presente na mostra do CCBB. Eles também aparecem no filme "Farnese" (1970), dirigido e roteirizado pelo crítico de arte Olívio Tavares de Araújo e escolhido melhor curta-metragem no Festival de Cinema de Brasília de 1971. No filme — restaurado em 2001 e transformado em um DVD que faz parte do livro de luxo "Farnese de Andrade", editado pela Cosac Naify — a voz em off do diretor comenta o que o espectador está vendo:
"Campos de concentração, cidades devastadas, bombardeiros repletos de Napalm, um humanismo esmagado, a manhã seguinte em Hiroshima e Nagazaki. É nesta atmosfera que respiram os habitantes das caixas de Farnese. A eles se aplica um antigo paradoxo. Imagens que não suportaríamos em sua existência original, depois de reelaboradas pelo artista adquirem uma nova e positiva dimensão. E oferecem uma emoção vizinha da alegria: o prazer que resulta, por força, da beleza".
No texto de apresentação do catálogo-livro, é do curador Charles Cosac, também um amigo do artista, estabelece um paralelo entre a obra de Farnese e artistas do construtivismo brasileiro, como Lygia Clark, Mary Vieira e Amílcar de Castro. No livro Farnese de Andrade, da Cosac Naify, o crítico Rodrigo Naves destaca, no texto "A grande tristeza", a sensação perturbadora que é estar diante das obras de Farnese de Andrade : "Conheço pouca coisa mais triste que os trabalhos de Farnese de Andrade. Essas cabeças de boneca arrancadas do corpo lembram maldades de infância. As madeiras gastas de seus trabalhos guardam um tempo esponjoso, que se acumula sobre s ombros e nos paralisa os movimentos. As fotografias e imagens presas nos blocos de poliéster falam de um passado que nos inquieta, mas que não podemos remover ou processar, já que não mais nos pertence."