CIGANOS ou ROM na Língua
Portuguesa.
Existe
na língua portuguesa uma antiga prática lingüística ofensiva e
pejorativa, sobre a palavra " cigana ou cigano ", por mais
que muitos deste grupo étnico assim se auto denominam, acho que
deveriam migrar para a palavra ROM. Este termo se deriva de um dos
mais antigos e fortes dialetos, falado universalmente no mundo
cigano, pois o “ romani
” (rromani
ćhib)
é o idioma falado
dos Rom e
dos Sintos,
povos nômades geralmente conhecidos pela designação de ciganos.
Pertence ao ramo indo-ariano proveniente
do grupo lingüístico indo-europeu. Este
dialeto não
possui escrita, só o conhece quem vive, foi criado ou viveu dentro
de uma comunidade e sociedade fixa ou nômade cigana. Esta distorção
do termo cigano, vem a
muito tempo e por
várias formas, nas praticas de linguagem popular
e anedotário,
muitas vezes quando se quer menosprezar alguém sobre tudo no âmbito
do comércio popular, afere se ao cidadão
comerciante
desonesto, a ele com
o
termo de ser
cigano,
sem ter nenhuma ascendência a este
determinado
grupo. Outra forma de uso indevido, são as giras ciganas no
culto brasileiro da
umbanda, como se fosse uma corrente de espíritos “adivinhatórios”
ou “profetizadores”, o que doutrinariamente não tem o menor
fundamento com o culto da
umbanda brasileira, criada originalmente no bairro fluminense de São
Gonçalo, e
o pior que
colocam
a tradicional
imagem
católica da padroeira do povo cigano,
Santa Sarah Kali, Santa
Sara ou Santa
Sara,
a negra (em romani
pronuncia
se: Sara
la Kali;
e
em francês: Sara
la noire),
que
segundo
várias lendas ancestrais,
foi uma discípula de Jesus de
Nazaré, venerada
assim
popularmente
como Santa pela Igreja
Católica.
Ela é invocada como a padroeira dos povos
ciganos e
das
mulheres que buscam a
fertilidade.
Seu
dia de devoção, culto e celebração acontece no dia 24 de Maio,
todos os anos pela comunidade cigana do mundo inteiro. Mesmo
assim, apesar
de ser uma santa católica
apresenta se na Umbanda, como
sendo
mais
uma santa de terreiro muito pela cor amarronzada e
amulatada
de sua pele, lembrando
que nada tem a ver com pele negra da etnia africana.
Entre tantas variantes populares e politicas de denominação
ofensiva e marginal do termo cigano, vale
lembrar
da perseguição e aprisionamento
do grande número de ciganos
assassinados
no
início da
Segunda
Guerra Mundial, durante a perseguição
das minorias na Alemanha
Nazista e em outros tristes
momentos
históricos universais,
a
dados que os egípcios escravizaram os para
as
construções
das pirâmides do Egito.
O
que leva a crer, segundo alguns especialistas, pesquisadores
e estudiosos sobre o tema,
que o grupo original
tenha
surgido pela primeira vez, a cerca de 3630 A.C.,
entre um conjunto pequeno de criadores de ovelhas e carneiros nômades
do deserto, que
viviam em tendas em
região,
em um
local estreito de terras localizadas no sul do atual Egito.
Existe
um projeto internacional, pleiteando a criação do Estado Romani,
mas
ainda muito insipiente, logo sem grande vontade politica e com poucos
países signatários.
Mesmo
aqui
no Brasil, desde o
tempo do império brasileiro e mais tarde na República, e mais
recente durante
os chamados
"
Anos de Chumbo " período nevrálgico
da
ditadura militar que
omitiu e censurou toda
verdadeira
história
desta
ascendência, sobretudo
a ligação ascendente
de grandes vultos históricos, assim como Castro Alves, Cecilia
Meireles, o
próprio
Presidente da República JK, Juscelino
Kubitschek que
entre
tantos outros que segundo alguns
estudos tinha ascendência cigana por parte de seu bisavô, que
chegou no Brasil, da região da antiga Boemia no final do século
XIX.
Segundo
alguns estudos universitários, acredita se que a população cigana
no Brasil, hoje esteja perto de 1 milhão, sendo que algumas cidades
brasileiras tenham um grande número de ciganos com profissões
autônomas e liberais com residência fixa, uma delas é a cidade de
Campinas no Estado de São Paulo da mesma forma que existe uma grande
concentração de ciganos nômades vivendo em tendas em acampamentos,
na região central do país, razão pela qual a CNBB, Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil,
nas atribuições do Código Canônico vigente, tenha fundado a
Pastoral Nômade, sobretudo para dar assistência jurídica, social,
educacional e religiosa aos ciganos desta região.
Na
cidade do Rio de Janeiro, o bairro que tem maior concentração de
ciganos
é
o bairro do Catumbi, inclusive existe uma Igreja Católica que tem um
altar lateral com a imagem de Santa Sarah Kali. A saudosa amiga, que
hoje vive em luz na eternidade, Dra.
Mirian Stanescon, advogada hoje falecida, muito fez pela comunidade
rom
e cigana
no Brasil. Era considerada, por muita justiça e
incansável trabalho, a
Embaixadora do Povo Cigano no Brasil. Entre todos seus grandes
feitos, um
deles foi
o
projeto e a
construção da Gruta
Santuário
de Santa Sarah Kali, no Parque Garota de Ipanema, localizado na orla
da zona sul da cidade do Rio de Janeiro, onde todos os dias 24 dos
meses, tem uma corrente de oração para Santa Padroeira do povo
cigano e
uma Grande Festa no dia 24 de Maio todos anos com tudo de melhor da
tradição cigana.
Por
tudo, e pelo pouco que humildemente conheço sobre a minha
ancestralidade
paterna
portuguesa e espanhola cigana,
gitana
e
calom, eu
sim
acredito
que no mundo contemporâneo acadêmico
e
na sociedade inclusiva das
diferenças do
século XXI, toda
a
comunidade
de
ascendência cigana
no
Brasil e em todos
os países
de língua portuguesa deveriam mudar o
termo de autodenominação étnica
de
cigano para
o
termo e a palavra ROM.
Texto de Ricardo V. Barradas